sexta-feira, 7 de setembro de 2012





Ainda assim, o fato é que a visão das coisas sugerida pela ciência é extremamente desconfortável para a mente humana. O mundo, tal como visto por físicos como Erwin Schrõdinger e Werner Heisenberg, não é um cosmo organizado. É um meio- caos que os humanos só podem esperar compreender parcial­mente. A ciência não tem como satisfazer a necessidade humana de encontrar ordem no mundo. As ciências físicas mais avançadas sugerem que causalidade e lógica clássica tal­vez não façam parte da natureza das coisas. Mesmo os aspec­tos mais básicos de nossa experiência ordinária podem ser enganadores.
A passagem do tempo é um aspecto integrante da vida co­tidiana. No entanto, como observa Barbour, a ciência sugere que talvez o tempo não faça parte do esquema existente. A lógica clássica nos diz que o mesmo evento não pode, ao mesmo tempo, acontecer e não acontecer. Mas, na interpre­tação “muítos-mundos” da física moderna, é precisamente isso o que ocorre. Tornou-se parte do senso comum acreditar que o mundo físico não é alterado pelo fato de nós o observarmos. Mas a alteração do mundo por seus observadores está no cerne da mecânica quântica. Assim como a tecnologia, a ciência se desenvolveu para atender às necessidades humanas; e, tam­bém como no caso da tecnologia, ela revela um mundo que os humanos não podem controlar nem jamais entender to­talmente.
A ciência tem sido usada para respaldar a idéia fantasiosa de que os humanos são diferentes de todos os outros animais em sua habilidade para entender o mundo. Na realidade, seu valor supremo pode estar em mostrar que o mundo que os humanos estão programados para perceber é uma quimera.
VERDADE E CONSEQÜENCIAS
Os humanistas acreditam que, se soubermos a verdade, sere­mos livres. Ao afirmar isso, imaginam que são mais sábios do que os pensadores de outros tempos. Na realidade, estão apri­sionados nas garras de uma religião esquecida.
A fé moderna na verdade é uma relíquia de um credo an­tigo. Sócrates fundou o pensamento europeu erigindo-o so­bre a fé de que a verdade nos torna livres. Ele nunca duvidou de que o conhecimento e a boa vida andassem juntos. Passou essa fé para Platão e, assim, para o cristianismo. O resultado é o humanismo moderno.
Sócrates pôde acreditar que a vida examinada é melhor porque pensava que o verdadeiro e o bom eram uma e mes­ma coisa: existe uma realidade imutável além do mundo visível, e ela é perfeita. Quando os humanos vivem a vida não- examinada, correm atrás de ilusões. Passam suas vidas bus­cando o prazer ou fugindo da dor, e o prazer e a dor são ambos temporários. A verdadeira realização está nas coisas imutá­veis. Uma vida examinada é melhor porque nos conduz à eternidade.
Não temos que duvidar da realidade da verdade para re­jeitar essa fé socrática. O conhecimento humano é uma coisa, o bem-estar humano é outra. Não existe nenhuma harmonia predeterminada entre os dois. A vida examinada pode não yiIera~penã^7Vir\ddau
A fé de Sócrates na vida examinada pode bem ter sido um resíduo de uma religião arcaica: ele “usualmente ouvia uma VOZ interior que sabia mais do que ele mesmo, e lhe obedecia

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