Ainda
assim, o fato é que a visão das coisas sugerida pela ciência é extremamente
desconfortável para a mente humana. O mundo, tal como visto por físicos como
Erwin Schrõdinger e Werner Heisenberg, não é um cosmo organizado. É um meio-
caos que os humanos só podem esperar compreender parcialmente. A ciência não
tem como satisfazer a necessidade humana de encontrar ordem no mundo. As
ciências físicas mais avançadas sugerem que causalidade e lógica clássica talvez
não façam parte da natureza das coisas. Mesmo os aspectos mais básicos de
nossa experiência ordinária podem ser enganadores.
A passagem
do tempo é um aspecto integrante da vida cotidiana.
No entanto, como observa Barbour, a ciência sugere que talvez o tempo não
faça parte do esquema existente. A lógica clássica nos diz que o mesmo evento
não pode, ao mesmo tempo, acontecer e não acontecer. Mas, na interpretação
“muítos-mundos” da física moderna, é precisamente isso o que ocorre. Tornou-se parte do senso comum acreditar que
o mundo físico não é alterado pelo fato de nós o observarmos. Mas a alteração
do mundo por seus observadores está no cerne da mecânica quântica. Assim como a
tecnologia, a ciência se desenvolveu para atender às necessidades humanas; e,
também como no caso da tecnologia, ela revela um mundo que os humanos não
podem controlar nem jamais entender totalmente.
A ciência
tem sido usada para respaldar a idéia fantasiosa
de que os humanos são diferentes de todos os outros animais em sua habilidade
para entender o mundo. Na realidade, seu valor supremo pode estar em mostrar
que o mundo que os humanos estão programados para perceber é uma quimera.
VERDADE
E CONSEQÜENCIAS
Os
humanistas acreditam que, se soubermos a verdade, seremos livres. Ao afirmar
isso, imaginam que são mais sábios do que os pensadores de outros tempos. Na
realidade, estão aprisionados nas garras de uma religião esquecida.
A fé
moderna na verdade é uma relíquia de um credo antigo. Sócrates fundou o pensamento europeu erigindo-o sobre a fé de que a verdade nos
torna livres. Ele nunca duvidou de que o conhecimento e a boa vida andassem
juntos. Passou essa fé para Platão e, assim, para o cristianismo. O resultado é
o humanismo moderno.
Sócrates pôde
acreditar que a vida examinada é melhor porque pensava que o verdadeiro e o bom
eram uma e mesma coisa: existe uma realidade imutável além do mundo visível, e
ela é perfeita. Quando os humanos vivem a vida não- examinada, correm atrás de
ilusões. Passam suas vidas buscando o prazer ou fugindo da dor, e o prazer e a
dor são ambos temporários. A verdadeira realização está nas coisas imutáveis.
Uma vida examinada é melhor porque nos conduz à eternidade.
Não temos
que duvidar da realidade da verdade para rejeitar essa fé socrática. O
conhecimento humano é uma coisa, o bem-estar humano é outra. Não existe nenhuma harmonia
predeterminada entre os dois. A vida examinada pode não yiIera~penã^7Vir\ddau
A fé de Sócrates na vida examinada pode bem ter sido
um resíduo de uma religião arcaica: ele “usualmente ouvia uma VOZ interior que sabia mais do que ele mesmo, e lhe
obedecia
Nenhum comentário:
Postar um comentário