SOU CONTRA
Aborto
Que eu sou
a favor da liberação geral e irrestrita do aborto, não é segredo prá ninguém.
Já escrevi isso aqui, inclusive defendendo o lado frágil num ambiente de aborto
liberado, o lado masculino. E também adianto que não tenho mais saco prá
discutir com quem é contra. O tema aborto é como jogo da velha. Em menos do que
15min logo se descobrem todas as possibilidades do jogo, e todas as partidas
terminam empatadas.
E tá sendo particularmente irritante, ou
vergonhoso, perceber que Serra e Dilma, independentemente de qualquer outra
coisa, tenham que apresentar-se como religiosospró-vida. Um vexame. Todos sabem que, se dependesse
apenas deles, com um canetasso no primeiro dia de governo, o SUS passaria a
fazer abortos e ainda daria um brinde a quem fizesse. Fecha parênteses.
Há uma espécie de vinculação necessária entre ateísmo e aborto,
como se uma coisa necessariamente levasse à outra. Eu admito que ambos andem
sim de mãos dadas, ainda que eu pessoalmente conheça poucas pessoas
declaradamente atéias prá perguntar sobre isso. Mas não há essa vinculação, uma
coisa não leva necessariamente à outra. Assim como sua recíproca. O problema é
que, desde um ponto de vista ateísta, o único argumento contrário ao aborto –
já que não há outro – perde muito ou mesmo totalmente sua força. Qual seja, o
argumento absoluto e fechado, e portanto de cunho místico, sobre o valor
infinto da vida (humana), admitindo-se também que a vida começa com toda sua
plenitude e status já na concepção, o que também tem essa característica.
Muito da discussão foca-se nisso, mas é
interessante observar que esses argumentos contrários ao aborto são
simplesmente inatacáveis. Não há como oferecer qualquer oposição a isso, como
ocorre com toda percepção de cunho místico. Claro, há os famosos deslizes
falaciosos, como falar-se em matar bebês, dizer que daqui a pouco vamos permitir o
assassinato e outras bobagens, mas mesmo quem os afirma no íntimo sabe que está
falando besteira. Há também graves incoerências, como ser a favor do aborto em
casos de estupro: mas ora, o que o proto-ser tem a ver com o fato de ter sido
gerado num ato de estupro ou num ato de pleno amor planejado? E mesmo o caso de
risco de vida para a gestante em que o feto tenha possibilidade de sobreviver:
tudo o que ele estaria fazendo é justamente tentar sobreviver, então por que
deliberadamente matá-lo em função da vida da mãe, dado que a vida tem esse
status de valor absoluto parea os dois?
Mas isso são incoerências apenas, o argumento principal
permenece lá, firme, absoluto e inatacável. Mas quando olha-se para essa
questão despindo-se esse viés místico, as coisas mudam muito. Os argumentos a
favor – que são bem mais do que um – tornam-se avassaladores, ainda mais quando
lembramos que a espécie humana não está em extinção, única situação que talvez
tivesse força de justificativa frente aos argumentos a favor. Sob essa
perspectiva, a coisa fica assim: alguém será obrigado a alguma coisa? Não. Fim
de papo.
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