sexta-feira, 7 de setembro de 2012




SOU CONTRA


Aborto



Que eu sou a favor da liberação geral e irrestrita do aborto, não é segredo prá ninguém. Já escrevi isso aqui, inclusive defendendo o lado frágil num ambiente de aborto liberado, o lado masculino. E também adianto que não tenho mais saco prá discutir com quem é contra. O tema aborto é como jogo da velha. Em menos do que 15min logo se descobrem todas as possibilidades do jogo, e todas as partidas terminam empatadas.
E tá sendo particularmente irritante, ou vergonhoso, perceber que Serra e Dilma, independentemente de qualquer outra coisa, tenham que apresentar-se como religiosospró-vida. Um vexame. Todos sabem que, se dependesse apenas deles, com um canetasso no primeiro dia de governo, o SUS passaria a fazer abortos e ainda daria um brinde a quem fizesse. Fecha parênteses.
Há uma espécie de vinculação necessária entre ateísmo e aborto, como se uma coisa necessariamente levasse à outra. Eu admito que ambos andem sim de mãos dadas, ainda que eu pessoalmente conheça poucas pessoas declaradamente atéias prá perguntar sobre isso. Mas não há essa vinculação, uma coisa não leva necessariamente à outra. Assim como sua recíproca. O problema é que, desde um ponto de vista ateísta, o único argumento contrário ao aborto – já que não há outro – perde muito ou mesmo totalmente sua força. Qual seja, o argumento absoluto e fechado, e portanto de cunho místico, sobre o valor infinto da vida (humana), admitindo-se também que a vida começa com toda sua plenitude e status já na concepção, o que também tem essa característica.
Muito da discussão foca-se nisso, mas é interessante observar que esses argumentos contrários ao aborto são simplesmente inatacáveis. Não há como oferecer qualquer oposição a isso, como ocorre com toda percepção de cunho místico. Claro, há os famosos deslizes falaciosos, como falar-se em matar bebês, dizer que daqui a pouco vamos permitir o assassinato e outras bobagens, mas mesmo quem os afirma no íntimo sabe que está falando besteira. Há também graves incoerências, como ser a favor do aborto em casos de estupro: mas ora, o que o proto-ser tem a ver com o fato de ter sido gerado num ato de estupro ou num ato de pleno amor planejado? E mesmo o caso de risco de vida para a gestante em que o feto tenha possibilidade de sobreviver: tudo o que ele estaria fazendo é justamente tentar sobreviver, então por que deliberadamente matá-lo em função da vida da mãe, dado que a vida tem esse status de valor absoluto parea os dois?
Mas isso são incoerências apenas, o argumento principal permenece lá, firme, absoluto e inatacável. Mas quando olha-se para essa questão despindo-se esse viés místico, as coisas mudam muito. Os argumentos a favor – que são bem mais do que um – tornam-se avassaladores, ainda mais quando lembramos que a espécie humana não está em extinção, única situação que talvez tivesse força de justificativa frente aos argumentos a favor. Sob essa perspectiva, a coisa fica assim: alguém será obrigado a alguma coisa? Não. Fim de papo.



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