quarta-feira, 26 de setembro de 2012


 amor surpreende:suddenly you're in Love

 O  amor surpreende:suddenly you're in Love
(leia o conto Ouvindo a musica)

Não sei por que voltei aquele apartamento, acho que foi por saudade, apenas para não perder as lembranças. Abri a porta com dificuldade, à fechadura nunca funcionou direito, o fedor de mofo, acabei tossindo um pouco e esfregando os olhos, algumas coisas nossas ainda estavam ali: o velho sofá de dois lugares, alguns brinquedos espalhados. As paredes encardidas, tudo dentro da minha cabeça estava tão limpo, branco, com os dentes e face dela no leito de morte. o Amor  me tirou de um abismo,ganhei um nome, filhos e um paixão inesquecível, mesmo que agora tudo fosse lembranças.
Peguei a cabeça da boneca no chão, lembrei tão nítido como estava vivo e respirando, o dia que comprei aquela boneca, às vezes nem sabemos por que, uma coisa engraçada, mas cada brinquedo de nossos filhos tem um historia, cada um tem o seu drama, lembrei-me daquela boneca. Minha filha, tão parecida com a mãe, estava com sete anos, trousse o boletim dizendo ao mesmo tempo que me beijava.
-Papai, consegui, tirei todas as notas máximas, menos artes, mas você falou que artes não conta.
Coloquei a cabeça da boneca no bolso do jaleco, havia saído da farmácia, só para caminhar, os ventos e meu coração chegaram até o meu velho apartamento, onde estavam as minhas melhores memórias. Lembro quando fui a ultima vez ao hospital visitar Raquel, ela estava tão magra, depois das sucessivas infecções, quase nada restava dela, o vicio, tudo tinha contribuído para que a minha linda mulher virasse uma figura desesperada a beira da morte.
O tempo todo eu sabia do vicio dela, sabia que ela tinha crescido em um lar onde pai e mãe eram pessoas importantes, que nunca teve o carinho de nenhum deles, apenas os presentes, as festas, boas escolas, mas a presença?Se reduzia, as vezes, ao beijo de boa noite, aos treze anos começou a fumar maconha, ao quinze usava crack.
Conheci Raquel em uma festa na universidade, ela estudava sociologia, só para ficar mais perto dos fornecedores principais de drogas,que rondavam o centro de ciências humanas, e para sacanear o pai que era advogado conhecido, a mãe,que era juíza e ambos haviam estudado no mesmo centro, já não falava com a mãe muito tempo.A mãe de Raquel sempre foi uma mulher ocupada, juíza, achava que Raquel usava drogas para envergonhar a família.O dia que conheci ela estava linda de vestido,de bolinhas, com decote, parecia uma menina de dezesseis anos, sorrido para mim, um sorriso cor de céu,que de tão bonito ficou marcado para sempre como a minha lembrança principal, o meu trofeu.
-Cláudio, você é o Cláudio, o bonitão que estuda farmácia?
-Vindo de quem vem, uma princesa, sabe quantas vezes passei por você várias vezes e você nem me notou – ela sorriu novamente, o jeito mais fácil de saber que ela estava feliz, nunca sorria a toa.
-Estava bêbada, cega, ou drogada. Sabia que você é muito tímido, estou te olhando faz uns minutos, metade dos caras já teriam partido para cima logo, sabe que eu gosto dessa timidez?
Aquela noite ela bebeu demais, caiu no sofá da minha casa, carreguei ela no colo e levei para a casa dos pais, o pai dela abriu a porta.
-Essa menina!Bebida?
-Sim senhor, bebeu um pouco demais.
-Você está sóbrio? –Ajudei a colocar Raquel no sofá – Um amigo da minha filha que não usa drogas, nem bebe – ele pareceu lembrar-se de alguma coisa – já sei!Você é o estudante de farmácia, minha filha esteve de olho em você, só que acho que você tinha uma namorada.
Havia algum tempo que Raquel e pai estavam em uma fase de recuperação.Dr Lucas falou para mim que não adiantava outra abordagem, amava a filha, deixou ela sozinha tempo demais, agora queria apenas conversar, aprendi muito com ele sobre Raquel.
Magda, era a minha namorada, dois dias depois acabaria com um namoro de cinco anos.
-Você vai me deixar por uma viciada?
-O coração não escolhe,escolhe?
-Coração não escolhe  merda nenhuma, você deve estar usando drogas, nunca mais fala comigo! Cinco anos de minha vida, Claudio, quem   você pensa que é? Estala o dedo e diz, olha não quero mais, estou apaixonado por uma putinha drogada?
Ela não precisava pedir para não procurar mais, eu nem me lembrava de mais nada dela.
Quando conheci Raquel estudava farmácia, mas uma profunda depressão corroia meus dias, andava achando tudo sem sentido, mesmo meus livros, a ideia da morte parecia um caminho mais viável para aliviar o meu sofrimento, minha mãe trabalha ainda em três turnos como enfermeira, meu pai, depois de uma queda não andava nem falava, fui adotado com cinco anos, nunca conheci os meus pais biológicos,isso não tinha importância, com filho adotado achava que era um fardo para os meus pais adotivos que eram pobres.Quando fiz dezoito anos passei no vestibular e comecei a fazer o curso de farmácia, namorava com Magda, nunca havia gostado de ninguém até conhecer Raquel, nem mesmo de mim, por isso mesmo contra a vontade de sua mãe casamos um ano depois.
Raquel teve a sua primeira recaída quando o pai morreu de infarto, estava num recital de musica, nunca teve nada, todos os exames estavam normais, apenas caiu e morreu, nesse dia, ela sumiu, fiquei com minha filha, sozinhos por três dias, procurei em todos os lugares, policia hospital e até no necrotério, ela apareceu depois do terceiro dia.
-Onde você estava.
Não me respondeu, bateu a porta do quarto e ficou lá por uma semana, pegava um chocolate na geladeira e água, fumava todas as pedras de crack que conseguia comprar, vendia tudo que tínhamos em casa, nesse ano não tive um dia sequer de sossego, fui a policia duas vezes e no hospital uma dezena, minha filha com dois anos, ficava a maioria do tempo com uma babá chamada Leila.Um dia encontrei Raquel caída na porta da nossa casa, com o vestido todo rasgado.
-Claudio, me larga, leva nossa filha pra longe.
-Não vou te largar, a gente está  nessa juntos,quando um cair o outro cai– ela chorava, esta pior que os outros dias.
-Voltei a fazer programas, os caras dizem que tenho que largar você – as lagrimas nãocaiam elas sangravam pelo seu rosto,segurou o meu rosto, aquilo me chocou, acho que foi a primeira vez que fiquei realmente com raiva, minha tentação do monte das oliveiras, quando ela disse que estava fazendo programas, deixei ela no chão, fui para dentro do quarto, minhas lagrimas desciam pelo rosto, a arma que havia comprado para mim, quando ainda sofria de depressão, estava no armário, queria pegar aquela arma,dessa forma dava fim ao meu sofrimento, aquela vida sem sentido.O que poderia fazer agora?Minha filha estava em segurança com avó, peguei a arma coloquei na boca,quando ela entrou cambaleando, novamente me salvou.
-Se você tiver que atirar em alguém, atira em mim – disse aproximando  seu rosto,uma luz acendeu, havia assumido serenidade, não estava mais com o aspecto de uma droga da sarjeta,tinha um ar de quem levantou de um pesadelo, como se ela ao me ver no desespero mudasse – O amor que tenho por você, nem mesmo eu sei o que é, as vezes o demônio toma o meu corpo, mas ele não toma a minha cabeça – ela apontou para a cabeça – aqui tenho uma esperança, se você atirar,digo uma coisa para você, essa bala vai matar duas pessoas. Cláudio, com você eu tenho esperança, lá dentro,esperança.
Fui salvo,aquele dia entendi tudo o que tinha me passado até ali, num só instante,ela me salvou.Eu é que não consegui salvar Raquel, no hospital em seu ultimo dia ela me disse:
-Lembra-se daquele ano, agente teve um grande ano quando Pedro nasceu?
Pedro, nosso filho caçula, veio para unir todos, até a juíza, louca pelo neto aproximou-se da filha, resultado, um único ano,intenso e maravilhoso, vivemos em amônia , sem álcool, sem drogas, sem brigas, mostrando que tudo que as pessoas precisam é de uma chance, um único ano vale,se nele existir amor?
Aquele valeu muito, o aniversario de Pedro de um ano de vida foi tão especial que ele quadrou o momento mágico dos primeiros passos para sair correndo atrás de um balão. A premeria vez que Raquel abraçou a sua mãe, chorei, que dor,que orgulho é esse? As pessoas se amam necessitam uma das outras, mas se afastam como inimigos.
O  ano seguinte foi o que ela descobriu o câncer, morreu em julho.
JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 26/09/2012
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segunda-feira, 24 de setembro de 2012




A caixa de do esqueleto


Olhei para Olavo, meu amigo da politécnica e disse.
-Olavo, se você tiver um filho e ele for para universidade, nunca deixe dividir um quarto com pessoas esquisitas.
Olavo estava ali para jogar conversa fora, sempre que era sexta à tarde a gente se encontrava naquele bar, ficava ali falando de mulher, cerveja, futebol e política, nada serio, só esquentando o banco e tomando uma gelada. O nosso grupo tinha cinco integrantes quando estava completo, mais habitualmente três, eu o Olavo e Maria Cecília, professora de português, o Olavo ensinava desenho técnico, eu, Carlos Maia, esse é meu nome de batismo, teria que ter o sobrinho na frente, pois esse também é o nome do meu tio, irmão da minha mãe, mas ficou Carlos Maia. Leciono matemática e lógica.
-Como assim? – Perguntou Olavo, quando eu já nem me lembrava do que tinha falado.
-O quê?
-Esquisito, como, doido, maconheiro, sabe lá? – Olavo era preconceituoso, gays, lésbicas, maconheiros e negros, eram  a mesma minoria chata, além das feministas, essas deveriam ir para o inferno, estavam atrapalhando a boa mulher que ia para o fogão e não perguntava onde o marido estava bebendo,não queriam saber do salário dele, nem do perfume esquisito na manga da camisa.
-Góticas, sei lá, vou te contar uma historia – quando ia começar a Maria Cecília chegou.
-Estão conversando sobre mulher, esse – apontou para o Olavo – é o maior troglodita, reacionário e homofóbico que eu conheço, além de tudo é careca. Você sabia que você é uma minoria?
Olavo para provocar superioridade masculina segundo ele, garantida pela bíblia, assoviava a musica “é dos carecas que elas gostam mais”.
-Vocês vão brigar – disse tomando mais um chope – já ia começando a contar a historia da faculdade, do tempo em que dividia o quarto com duas meninas estudantes de medicina.
-Garçom não atende mulher, chama você o garçom que estou morrendo de sede- disse Maria Cecília batendo na careca do Olavo.
O garçom, que era mineiro, todo mundo que frequentava o bar  chamava de Paraíba, trousse o chope da Maria Cecília e comecei a contar a minha historia.

O Ano 1982, o Brasil perdia a copa do mundo que deveria ter ganho, a gente estava fervilhando na universidade,livros,drogas,rock, o marxismo, de fato concreto nas vidas das pessoas e de transformação, tinha se tornado ideologia barata e programam partidário.
Carlos Maia, “meia direita” do time politécnico, jogador mediano de xadrez, me lascava no oitavo período de matemática, considerando que a minha escolha tinha sido a pior escolha profissional possível, nem tinha ideia que a matemática era tão difícil, no segundo grau parecia fácil, mas era tarde demais para desistir,cheguei ao oitavo período sem entender metade do que me ensinavam,nem pergunte com?
Meus pais moravam no interior, aluguei um apartamento de frente para universidade, mas o aluguel estava caro demais, foi quando veio à ideia de colocar um anuncio no jornal, divido quarto, preferência homens solteiros.
O Primeiro que se apresentou foi um estudante de química, mas ele fumava demais e eu tinha asma, quer dizer ainda tenho, cigarro acabaria com o meu sossego respiratório, não deu certo, depois apareceu, Marcileia, mas ela não estudava, e fazia programas, minha mãe não deixou, naquela época, conforme a conveniência eu ouvia a minha mãe. Um dia de chuva dez horas da noite bateram a campainha do apartamento, logo tive a impressão de ver duas pessoas,abri a porta apenas uma moça, vestindo preto, com olhos verdes e um rosto muito pálido apareceu.
-Tem mais alguém com você? – perguntei.
Ela riu – Todo mundo pergunta isso.
-Você veio pelo anuncio.
Ela entrou, vestia calça e blusa preta, tinha os cabelos castanhos, uma maquiagem pesada, como se tivesse ficado acordada a noite, sua pele era clara, mais que  pálida braça glacial, parecia até que ela tinha passado um pó branco,ou maquiagem, mas no final achei bonita, acho que como Olavo tenho meus preconceitos, seu sorriso era perfeito e tinha um ar misterioso.
-Estudo medicina, eu e minha irmã, estamos desesperadas, o curso acabou, precisamos de um lugar por seis meses para estudar para residência.
-Você tem uma irmã?
-Gêmea, mas não idêntica, mas as pessoas acham as duas muito parecidas uma com a outra – ela riu, achei o sorriso bonito e modificava o semblante pesado – Todo mundo acha gêmea parecida, não é?
-Você é gótica, não curto drogas, nem cigarros – olha a minha manifestação preconceituosa, que nunca consigo controlar.
-Não se preocupe, não sabe aquele ditado as aparências enganam – ela fez um gesto que demonstrava que havia se lembrado de alguma coisa – Gosto de anatomia, então trago comigo um esqueleto que estudo todas as noites, nunca se sabe talvez você se importe, talvez não se importe?
Um esqueleto, isso era legal?Uma pessoa pode, sem o consentimento legal, andar com esqueleto humano, queria perguntar isso para ela, mas fiquei hipnotizado pelo seu olhar e disse que se fosse por seis meses pra mim tudo bem, elas ficariam com a suíte e eu com quarto dos fundos, que era maior e tinha banheiro próprio.
Elas chegaram num sábado, conheci a irmã, realmente muito parecida, porém de cabelos lisos e olhos pretos, vestia-se com uma roupa leve, um vestido azul descontraído, parecia muito mais jovem e bonita, sorriu muito mais, meu coração começou a sair pela boca quando ela me falou.
- Minha irmã não me falou que você era tão bonito!
-Todo mundo me chama de Nerd cabeção, não sou bonito, meu apelido na politécnica é cálculo.
-Sei lá, acho que você tem ai uma coisa que atrai as mulheres,me diz? Quanta namorada você teve?
-Umas dez – menti, até aquele momento, sem contar com a empregada doméstica da vovó, nenhuma.
-Viu!Don Juan acho que você é bem novinho, quantos anos você tem, doze? – disse ela pegando nos meus óculos e deu uma gargalhada, me senti ofendido, depois me beijou no rosto, então me acalmei.
-Vinte, fiz em fevereiro.
Claro que dali em diante Marta a irmã clara e alegre era a minha favorita, mas eu só via Marta à noite, ela saia e sempre voltava com um cara diferente, aquilo estava me incomodando, mas ele não ficava, ia até a porta e depois de beijar Marta ia embora, não entrava, não atentava contra a moral e os bons costumes, ela entrava dizia oi, tomava uma água ia deitar, pela manhã aparecia Nívea, como se ela estivesse em uma balada na noite anterior, perguntava pela irmã ela sempre respondia.
-Aquela?Vai me dizer que você não sabe a hora que ela chegou?
Outra coisa, meu apartamento pega o sol da tarde, tinha a fama de ser quente, naqueles dias estava muito frio, um frio tão grande que eu só andava de agasalho, liguei para o vizinho do lado, Seu Onofre.
-Seu Onofre, o senhor está com frio?
-Que Pergunta é essa – seu Onofre era bombeiro aposentado, tinha mania de doença, pegou o termômetro e foi até a minha casa.
-Oh Carlos, tem alguma coisa podre dentro da geladeira – ele foi logo abrindo a minha geladeira – alguma pizza da semana passada, um feijão de sete dias, vamos rezar a missa de sétimo dia dele, esse é o cheiro mais nojento que já senti, a verdade é que parecesse que tem alguém morto aqui, isso me lembra uma vez que fui resgatar um acidente de carro que as vitimas já tinham dias de desaparecidos, aquilo era fedor, esse fedor está muito parecido, pode procurar.Meu filho, tem um bicho morto em algum lugar por aqui.
-Que cheiro o senhor tá falando seu Onofre, estou com frio.
-Frio!Você deve estar gripado – pegou o termômetro e colocou no meu braço.
-O senhor não está sentindo o frio?
-Não, só esse cheiro podre – ele foi até os dois banheiros e deu descarga – deve ser o local de respiração do bueiro, deve estar voltando tudo para cá, vou vê isso com o sindico – pegou o termômetro na minha axila e disse – não disse trinta e oito, vou te dar uma aspirina e alguns antibióticos, quando estou doente tomo logo três, eu acredito nos antibióticos, eles vão salvar o mundo.
Outro dia parei Marta, assim que ela entrou toquei o braço dela, senti aquele frio, mas não importava, estava quente por nos dois.
-Poderia conversar comigo um pouco?
Ela me olhou com ternura, meu coração começou a bater rápido novamente, Marta tinha aquele jeito de me olhar, parecia estar tão feliz com a vida, tanta vontade de viver que contagiava.
-Fala  meu amor.
-Queria sair para comer uma pizza, a gente  poderia conversar – ela olhou para o relógio.
-Agora?
-Pela manhã – ela me olhou com surpresa.
-Quem é que come pizza pela manhã, Carlos Maia, isso é coisa de Nerd que vai ficar gordo?
-Quero dizer à tarde, sei lá.
-Vou pensar – ela saiu e me beijou no rosto, a pele dela era fria, mas o contato me aqueceu.
Seu Onofre, o raio que o parta, chamou nada mais nada menos que minha mãe que despencou do interior de ônibus, com vinte malas e chegou à minha casa sem avisar.
O fofoqueiro do Onofre disse para minha mãe que tinha alguma coisa podre dentro do meu apartamento, duas mulheres vestidas de forma provocante, que ele não tinha visto nem em revista aqueles figurinos, achou que a coisa branca encima da mesa poderia não ser açúcar, o filho da Dona Fernanda era muito feio, se ela se descuidasse de mim poderia cair no mundo da perdição, ele não tinha filhos mas tinha experiência de bombeiro civil aposentado, minha mãe muito amiga do Onofre, despencou do interior e resolveu fazer uma visita de surpresa.
-Que cheiro é esse? – Disse, me beijando e ao mesmo tempo falando.
-Foi o fofoqueiro do seu Onofre, ele que ligou para a senhora?
- Não implica com Onofre, ele tem vasta experiência de bombeiro.
-Está tudo bem.Foi só uma gripe.
-Foi, mas você nunca foi tão descuidado, isso é na cozinha ou no banheiro, chamei a Cleuza pra ajudar a fazer uma faxina e colocar tudo que não presta fora, Onofre também me falou que você divide o quarto com duas moças, aqui não tem nenhuma indecência, tem Carlos?
-Olha para mim, sou cristão – disse pra minha mãe, claro que bem eu tinha vontade de que tivesse acontecido um monte de indecências – vou a igreja estou até me confessado.
-Que bom.
Nívea entrou na sala, ela estava vestindo o seu modelo negro, porem parecia menos cansada, sua face estava mais jovial, parecia liberta do peso, talvez tivesse passado na prova de residência, quem sabe?
-A senhora deve ser a mãe de Carlos?
-E você deve ser a companheira de quarto, uma delas, onde está a outra?
-Minha irmã viajou, aliás, estou de partida, viajo essa noite.
Fiquei atordoado, como partir? Elas ficariam seis meses? Só haviam se passado dois.
-Vim fazer uma faxina, o Onofre exagerou sobre o cheiro, não sinto nada – disse minha mãe indo para cozinha aproveitei para falar com Nívea.
-Você vai partir hoje? Marta não se despediu de mim, poxa eu gosto tanto dela por que a pressa?Quero ser amigo de vocês, não se preocupa com a minha mãe ela vai embora logo,é totalmente inofensiva – aposto que naquele momento estava com lagrimas nos olhos -  não tenho muitos amigos, poderiam ficar um pouco?
Nívea  olhou para cozinha calculando mentalmente a distancia entre ela e minha mãe, para ver se havia possibilidade de minha mãe escutar o que ela me falaria e disse.
 -Carlos, lembra-se da minha caixa, quero que entregue para a policia, acho que não vou precisar mais dela, você vai procurar o investigador Dalto Morais, ele já sabe do que se trata você não vai sofrer nenhuma penalidade, não se preocupe. Por favor, para o seu bem não abra a caixa.
Maria Cecília me perguntou:
-Você abriu a caixa?
-Abri.
Antes deixa terminar de contar, entreguei a caixa para o investigador, que não falou uma só palavra, depois li no jornal que ele havia confessado o crime, havia assassinado as duas irmãs.
Aquela noticia do jornal, eu não me lembro de tudo, da forma que vou contar parece caricatura, mas falando em poucas palavras, era assim:
“Investigador de policia confessou ontem assassinato de estudantes, gêmeas, que faziam o curso de medicina, as duas meninas estavam desaparecida desde agosto de 1980, filhas de um conhecido médico, que após o sumiço das duas nunca se recuperou, morrendo em seguida de um infarto do miocárdio, a surpresa é que o crime já era considerado solucionado, um andarilho de nome Pedro, havia sido preso pelo policia era tido como culpado, o delegado encarregado do caso se nega a dar entrevistas, ontem mesmo, por ordem judicial e pressão da impressa, Pedro  foi solto e o estado já pensa em uma indenização para os dias em que Pedro ficou preso, outra surpresa o investigador era amigo da família, havia crescido com as jovens, um crime brutal”.
-O que tinha na caixa?
-Apenas dois vestidos e ossos, muitos ossos.

domingo, 23 de setembro de 2012

 
A CARTA
 O meu pai morreu em setembro, deixando uma carta para mim e meu irmão, tínhamos que abrir essa carta no dia nove de agosto do ano seguinte, aniversario da morte de minha mãe, depois poderíamos decidir o que fazer.O meu irmão Paulo, que é advogado queria abrir a carta na mesma hora, eu concordaria afinal o velho já estava morto, depois de quase sete anos de sofrimento em uma cama de hospital, agora quem se importava.Paulo, era policial civil, estava no terceiro casamento e tinha um problema com álcool e tabaco,eu,Marco Antonio, nome me foi dado pela minha avó, que só via o lado bom do imperador, seus escritos, porém quem tem o mínimo de cultura e leu livros de historia sabe que Marco Antonio,apesar de culto e bom orador, era um imperador cruel, principalmente com os cristão.O Fato, lamentável é que eu recebi o nome dele, parece que essa contradição, entre o bem pensado e o bem feito, o nome Marco Antonio, trousse para mim, sou medico, administro uma clinica com duzentos profissionais, além de ser um dos médicos, reumatologista, tenho uma esposa e um casal de filhos, um deles com síndrome de Down, depois do nascimento  de Sergio, meu filho com síndrome de down,passei a dedicação exclusiva, minha mulher era fisioterapeuta da clinica, mas desistiu, o filho dava muito trabalho, assim passamos a maior parte do tempo separados, isso era bom para mim, comecei a beber um pouco mais, nada de alarde nisso, são fico caído como Paulo, nem chego em casa altas horas, recentemente tenho uma outra mulher, não que o sexo seja a desculpa, mas não consigo conversar com Raquel, agente não se entende, tenho que sempre me desculpar, ela está reclamando ou trás algum problema, é sempre problema, já Rose, não tem nada disso, ela me escuta, apoia as minhas ideias, claro que escolhi Rose com critério de cirurgião, ela é uma recepcionista, tem vinte e dois anos, não sabe quase nada, faz sexo sem pensar de forma adestrada, sempre me pede duzentos emprestado no final da tarde, faz o que eu mando,e, é claro, me acha lindo.Raquel, anda distante, parece num beco sem saída, olha para os lados, sempre com algum problema para resolver, nunca está relaxada, parece que perdeu a vontade de viver, a vida é um peso para mim, mas eu tenho álcool, os amigos, a amante, acho que não sobrou nada para Raquel, mesmo com o volume de dinheiro que ganho, com a casa maravilhosa, acho que tem andado tudo frio,lento e desagradável na minha casa, como se a morte de uma família.
            O ano passado ela me disse que achava que agente não se amava mais, ela estava enganada, agente se ama, ama demais, porém um não carrega mais o fardo que o amor do outro é, tudo desgastado, repetido, monótono, com filhos correndo pela casa, gritos o tempo todo, nada é como antes, ficamos na cama olhando para a TV, ou no computador, nada mais vazio que isso, eu quero sair, quero ver a rua, com Raquel do meu lado.
            A minha filha mais velha é ginasta, quase não para em casa, não consigo, mesmo nos momentos de folga achar um momento com ela, ela sai, nunca volta, sempre treinando, arranjou um namorado, Mauro, ele é negro, não posso dizer que aceitei logo de cara, não posso me considerar racista, mas negro, por quê?Perguntei a Raquel, ela me respondeu, nem reparei na cor, só sei que é estudioso, é um atleta do basquete e gostei da mãe dele.
            Meu Pai caiu de cama num dia  Paulo sumiu no outro , não aparecia para ajudar era tudo nas costas da Raquel, já que eu não ajudava também, com filho com um síndrome de Dawn, uma filha adolescente, e um pai,meu pai não o dela, com AVC, Raquel estava para ser internada num hospício, eu só ficava na rua, o Maximo possível, as vezes dormir em casa era um suplicio, acordava as seis da manhã e ia correr bem cedinho, tomava café na padaria e banho no trabalho, quando meu pai ainda andava e o seu cognitivo estava abalado por uma demência progressiva, eu as vezes encontrava o velho fazendo as necessidades fisiológicas na sala, aquilo era demais ficava para morrer, chamava Raquel na mesma hora, depois saia e fumava um cigarro, mesmo sabendo que Raquel falaria por três dias a mesma frase:” isso vai te matar”.
            O dia chegou, Paulo abriu o envelope.
            -Isso é piada – disse Paulo rindo.
            -O pai fala aqui Marcos, que você é adotado – ele disse dando gargalhadas.
            Como se isso fizesse diferença nesta altura do campeonato.



Cristão não se queixa



Todo mundo esta vendo o alarde do povo  muçulmano cuja causa é o famoso filme,ruim como filme,por sinal e muito desrespeitoso com certeza, aqui podemos pensar sobre a famosa liberdade de expressão, será que é direito de todo mundo fazer criticas sem respeitar pontos de vistas contrários,crença ou o que é sagrado para os outros?
  O filme, apreciado por muitos, intelectuais inclusive, brasileiro: As Aventuras de Agamenon - O Repórter, foi visto por centenas de cinéfilos, ávidos por cultura, e, meus amigos e minhas amigas, é altamente desrespeitoso com Cristo e os cristão, fazendo trocadilhos perversos,por que os cristão não se queixam a maneira muçulmano?
  O imperador Constantino, que entrou para historia como o primeiro imperador a se converter ao cristianismo, na sequencia da vitoria  Maxêncio Batalha da Ponte Mílvio, em 28 de outubro de 312, perto de Roma, tornou o cristianismo, a partir dali uma religião preferida pelo ocidente, hoje com característica civilizatórias. Está consolidada a espiritualidade cristão, neste seculo, apesar dos conflitos na irlanda, é uma espiritualidade pacifica, já teve o seu período de insegurança, mesmo durante as cruzadas, tantas vezes por capricho de um rei,ou para dar valor a um lorde.
  A civilização cristã, sofre com a desonra do sagrado, por mais que no passado tenha sido tão revoltada quando outras religiões. Mesmo uma pessoa agnóstica, entendo por pessoa agnóstica uma pessoa que não consegue compreender a divindade, deveria respeitar o que é sagrado para outras pessoas.
  Tudo pela liberdade de expressão,posso falar o que vai na minha cabeça se o resultado for arte?
  O ano de 1968, que foi o ano que não acabou, e que eu nasci, seria responsável, depois de tanta repressão pelo aparecimento de uma liberdade com gosto de fel, amarga, onde aceitamos casamento gay, aborto, drogas, entre outras conquistas, mas não respeitamos o direito do outro de ter uma religião.Discorda do pensamento ateu, niilista, hedonista da modernidade, ou da pós - modernidade com seus prazeres e a cultura do eu, seria um crime?Ou uma castração cultural.Lembrando  para Heguel a diferença entre real e realidade, está entre a minha visão e a de quem lê este testo, liberdade passou a ser real demais para mim, ou irreal se for assim ferindo os outros por mero capricho, afinal quem é realmente livre?
JJ DE SOUZA
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